A universidade é branca!

Primeiro dia de matrículas na UNIFESP, seguindo resultado da primeira chamada do SiSU. Primeiro dia de RACISMO nas matrículas na UNIFESP. É o dia que pela primeira vez muitas pessoas, em geral jovens, põe os pés uma universidade pública. De certo que é a primeira de muitos no espaço da UNIFESP. Este ano, tenho a expectativa de perceber mais estudantes negros e negras, além de oriundos de escola pública e poder recepcioná-los (as).

Contudo, o que tivemos foi estudantes com atitudes racistas aplicando trote nos que vinham se matricular. O trote em si já é todo discutível, mas o rito de entrada na universidade pública, tradicionalmente passa pelas tintas e muitos calouros(as) chegam com essa expectativa, desejam isso. Pois bem, mas de certo que não que duas estudantes negras que vieram fazer sua matrícula não esperavam que junto com a tinta de batismo, pintassem-lhes com tinta branca e dissessem “A UNIVERSIDADE É BRANCA”. Num dos casos, outro (ou outra) estudante ainda tentou amenizar a situação, passando-lhe tintas de outras cores e dizendo que a universidade é colorida. Mas, não é, ao menos não quando falamos dos docentes e discentes. A pirâmide racial ainda levará um bom tempo para mudar. E incessantemente aqueles que detêm os privilégios de uma sociedade fundada na exploração do outro, na bestialização, na retificação do outro irão ranger por mantê-los. Hoje mesmo a UNIFESP concedeu-me (mais) um exemplo disso. Quando um grupo de trabalhadoras terceirizadas da limpeza, me abordam para mostrar as evidências que colheram: desembrulham um sapato que faz parte do uniforme, balança-o e mostram as fezes de ratos. O lugar onde são obrigadas a guardam seus pertences está cheio de ratos. Mas este lugar não fica dentro da UNIFESP – onde aliás um certo vídeo com um rato passando no pátio causou a indignação de muitos estudantes. Fica do outro lado da rua, num terreno que futuramente será a continuação do campus e que por enquanto é uma terreno tomado de poças d’águas, mato e que vez por outra serve de estacionamento e tem uma barraco de madeira. Neste barraco, cheio de ratos, em condições deploráveis, cuja a ‘maquiagem’ para parecer menos ruim do que é, compete as próprias trabalhadoras é que guardam seus pertences. Elas o chamam de “moquifo”. O motivo que não se permite que elas entrem no campus com suas bolsa e pertences ou que haja um armário é ainda mais estarrecedor: sumiram alguns aparelhos de projeção das salas de aula. E logo de quem desconfiam? Não do estudante Cáucaso e de olhos claros que “tingiu a negritude” da caloura, não ele. Mas sim dos trabalhadores da limpeza, os trabalhadores terceirizados. Que limpam o “templo do saber”.

Democracia racial é mito gente. Atentem-se para isso: não tomar partido e tornar-se também opressor. E um bando de ratos sempre ratificam.

(nem falarei dos demais casos de trote não consentidos, logo, violentos; da não-acessibilidade do campus e das saunas de aula).

Brenda Barbosa, São Paulo-SP.

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